domingo, agosto 01, 2010

Liberdade e Ilusões


Do alto de minha janela observo a noite chuvosa. Os pingos grossos escorrem pelo meu rosto e se misturam com minhas lágrimas. O doce aroma do ar úmido embriaga-me. O vento forte que chega no 15º andar empurra meus cabelos para trás. Mais um passo e agora sento no parapeito contemplando os carros lá em baixo .A loucura da cidade e suas luzes rasgam a tranquilidade e a escuridão nesta noite fria. Os prédios resistem a bravura dos ventos e a insistência da chuva que teima inutilmente desintegrá-los. Mas a mão do homem não para, tenta dominar a natureza e ergue mais de seus templos de concreto e empinam seus dedos de aço contra Deus. Sou escravo de meu corpo. Minhas sensações guiam meu espírito, assim como a chuva e o vento guiam os homens que se escondem em seus guarda chuvas, carros e casas. São elas que me fazer sofrer... Foi através de meus olhos que a vi. Foi através deles que sua imagem penetrou na minha mente e imprimiu em minha substância o seu corpo e suas curvas. Foi através de minhas mãos que senti sua pele, percorri os segredos de suas formas, senti sua umidade e calor. Agora minhas mãos seguram o frio aço de minha janela e sentem a umidade da chuva que escorre para meus pulsos. Você modificou o mundo, passei a percebê-lo de outra maneira. A realidade se alterou e tornou-se feliz. As cores saltaram dos objetos e a alegria da expectativa da rotina tornou-se real. Confiei no mundo, na vida eterna e no amor. Porém, assim como os impérios, que são erguidos e se julgam eternos, sucumbem a massacrante roda da história, o meu mundo ruiu. Ele despencou quando a vi deitada no colo de outro. Em nossa casa, o cheiro de nosso amor puro se misturou com o fétido aroma da traição. O suor , o maço de cigarro jogado e as taças de vinho caídas se misturam com o sangue de dois corpos inertes. O cheiro da morte toma o quarto como o incenso toma a igreja. O ritual de destruição de minha alma está no fim. Mais um passo e meu corpo se despediu da janela e alcançou o ar. Fecho os olhos e me sinto livre, o vento sopra mais forte, meu coração dispara. Vou deixar este mundo de ilusões e descortinar a verdade sobre Deus. Minha mente se alivia, estou leve, será que vai doer? O chão está próximo, as pessoas parecem maiores, vejo a calçada, agora não resta mais nad................

2 comentários:

Syndrome disse...

Somos eternos escravos do que sentimos, muito bom.

Anônimo disse...

Cara, me deliciei com este texto...
da pra vivenciá-lo ao lê-lo.

é assim q se escreve? rs...