Saltou do onibus. Os pés tocaram o chão úmido da chuva da madrugada. Era ainda escuro quando caminhava a passos largos pelo terminal Bandeira. Desceu as escadas em direção ao acesso ao metrô. As pessoas caminham apressadas em sua rotina diária. Alguns de cabeça baixa olhavam para o chão, como uma fileira de bois caminhando em direção ao matadouro. Outros, com olhos vitreos, andavam mecanicamente pelos corredores do terminal. Junto com os demais, ele caminhava. Os passos largos demonstravam pressa. Não tinha vontade de chegar cedo, apenas seu corpo, já acostumado a esta rotina diária, agia mecanicamente sem precisar de alguma decisão inteligente para seguir seu caminho. Já estava acostumado com essa situação, afinal todos os dias de segunda à sábado deixava bem cedo sua casa no Jardim das Belezas e seguia para a República, onde iria trabalhar no escritório do Doutô António. Na saída do terminal, antes de entrar no metrô do Anhangabau, parou e foi dar uma espiada nos DVDs em promoção
– Tem algum ae do Marcelo Rossi?
– Tem não.
– Brigado.
– não serve outro?
– Não, valeu.
Contnuou seguindo. Passou pela catraca e desceu em direção à plataforma que já estava lotada. As pessoas se aglomeravam a espera do trêm. Uma senhora gorda de rosto redondo chamava sua atenção. Ela tinha o cabelo molhado muito esticado devido ao rabo de cavalo. Era interessante perceber que rente à sua cabeça estava tão retesado que dava a impressão de que os fios iriam a qualquer momento saltar da testa. Porém, logo após o elastiquinho ele tornava-se crespo, solto, aliviado da tensão que o prendia. O pescoço largo e fofo da mulher terminava em um grande colo, onde dois grandes seios desafiavam as leis da física e tentavam desesperadamente saltar fora da blusa decotada e apertada da mulher. O resto de seu corpo ele nem quis notar, pois aquelas duas grandes massas penduradas serviram para prender-lhe a atenção. Não que os achasse belo, porém devido a estranhesa que causavam, quebravam a rotina do ambiente. A mulher percebeu o olhar, mas procurou não demonstrar nada. Era casada, tinha três filhos, O mais velho já trabalhava, tinha 17 anos e fazia um bico na oficina do avô. Os dois mais novos ainda estudavam. Sentia que a cada filho que nascia um pouco de sua beleza saia junto. O corpo flácido apresentava as cicatrizes da geração da vida. Seu marido não a queria mais. A mulher sentia sua vida esvaindo, percebendo que agora o que lhe sobrava era apenas a morte, que a cada dia a levava aos poucos. Aquele rapaz, um negrinho magro, porém forte, e de olhar atrevido mexeu com seu corpo. Sentia uma pontada, um frio congelante a perfurar-lhe. Sentia seus rins colarem e uma palpitação forte. Sua garganta apertava, seu sexo lubrificado preparava-se para ser invadido, violentamente que fosse. Um homem ao lado fumava um charuto. Soltava a fumaça, que de forma delicada formava desenhos na estação. Fechou os olhos e veio a imagem de sua boca no pau daquele negrinho. Imaginava-se enrolando-se na sua cama, voltando a ser mulher, voltando a viver. Precisava desesperadamente disfarçar, controlar sua excitação. Passa então os dedos nas pontas soltas do cabelo, acariciando, imaginando tocar a ponta do membro do jovem que a olhava. A porta do metrô é aberta e a multidão entra no vagão. Como bárbaros que arrebentam os portões de um castelo e procuram espólios dentro dos limites da cidade, as pessoas, quase que derrubando umas as outras, procuram desesperadamente bancos para sentarem. A mulher consegue sentar. O garoto para na sua frente. Poderia ter sentado ao lado, teve a oportunidade, era só deslocar o cotovelo um pouco mais a direita, que aquela evangélica jamais teria conseguido. Mas ali estava bom. Podia disfardamente olhar para aqueles dois monumentos que, agora deliciosamente expostos, podiam fazer sua imaginação voar. Apesar de não serem bonitos, seu volume dava-lhe um enorme sensação de luxuria, de sexo sujo, sem pudores, sem a mediocre rotina da vida e nem preucupação com a moral. A mulher agora sentada podia percerber que o garoto a olhava por cima. Sua boca estava próxima ao membro que inchava dentro daquela calça jeans. Era só baixar aquele ziper que ela sugaria aquele membro como se sugasse a vida. O garoto, uns 15 anos mais jovem, não era bonito. Sentia o aroma de perfume barato e seus labios grossos davam uma impressão animalesca. Devia ser um desses garotos insensíveis que abusam de menininhas em festas funks, um maloqueiro, um fora da lei. O balançar do metrô a insinuava, imaginava o vai e vem, via sua boca indo e vontando, engolindo aquele membro. Imaginava as mãos do garoto segurando sua cabeça com força. E no momento do gozo a obrigando a engolir todo seu tesão que lhe escapava. Algo inesperado aconteceu. O Metrô para. A luz se apaga e ninguém mais consegue ver nada. É agora!!!!! Vou come-la! Vou chupa-lo! Durante os cinco minutos no qual a luz do trem ficou escura, muitos gritaram, outros riram, outros simplesmente continuaram espera, teve até quem dissesse que o fim do mundo estava próximo, ou que era uma invasão dos Eua. Mas ao ascender das luzes no meio da reclamação generalizada do atraso, duas pessoas mostravam em seus rostos o sorriso de quem a vida não se fez esperar, pelo menos não desta vez.
Um comentário:
Muito melhor que mts contos eróticos! Essa descrição de pessoas normais trouxe uma aproximação com a realidade que tornou o texto excitante! Sem aqueles estereótipos de pessoas perfeitas, gostosas como as atrizes de tv ou cinema. Mas não gostei do final! =/
achei o "apagão" pouco provável e esperava a excitação do desejo irrealizável ou pelo menos o sabor da dúvida...
Mas ainda assim mt bom...
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